E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio
(que também se chama vida),
ver a fábrica paciente
que ela mesma se fabrica,
vê-la surgir como há pouco
em nova flor explodida.
(Mesmo quando é tão pequena
a explosão ocorrida.
Mesmo quando é explosão
como a de há pouco, franzina.
Mesmo quando é a explosão
de uma vida severina).
(João Cabral de Melo Neto – Morte e Vida Severina)
Morte e Vida Severina, do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto, tornou-se um clássico da literatura e do teatro brasileiro. Publicado pela primeira vez em 1956, no livro Duas Águas (poemas reunidos), pela editora José Olympio, estreou nos palcos, nacionalmente, no dia 23 de julho de 1958, no I Festival de Teatro de Estudante do Brasil, realizado na cidade de Recife/PE, evento organizado por Paschoal Carlos Magno, juntamente com os grupos de teatro amador de todo país.
Essa primeira encenação da obra foi realizada por um grupo paraense, Norte Teatro Escola do Pará, fundado em 1957, que tinha em sua formação jovens estudantes das faculdades de Belém, além de professores universitários e intelectuais locais. Em documentos encaminhados à coordenação geral do evento, temos a seguinte organização do grupo: Benedito Nunes (responsável pelo grupo), Angelita Silva (figurino e maquiagem), Cândido Lemos (cenários), Antônio Campos (contrarregra), Waldemar Henrique (direção musical), Lindanor Celina (musicista), Margarida Schivazappa (convidada especial). No elenco: Carlos Miranda, Aita Atmann, Maria Brígido, Cândido Lemos (Paraguassú Éleres), Wilson Pena, Fernando Pena, Lores Pereira, João Augusto. A direção foi de Maria Sylvia Nunes.
Em homenagem aos 60 anos dessa primeira montagem de Morte e Vida Severina, completados agora em 2018, trazemos aos palcos novamente essa obra, como forma de celebração pela memória desse importante momento do teatro paraense e brasileiro. Motivados pela necessidade de lembrar a encenação do Norte Teatro Escola do Pará, tomamos como fio condutor alguns elementos usados pela encenação de 1958, como a música do maestro Waldemar Henrique (Tema de Severino), composta especialmente para o espetáculo.
Inspirados pela memória teatral, e pelos atravessamentos que a obra nos provoca, oferecemos ao público uma encenação que se constrói pelas nossas imersões na poesia de João Cabral de Melo Neto, em comunhão com a montagem de 1958, mas conduzidos pelas experiências e vivências cênicas atuais em Belém. “Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida”, e vivemos o eterno ciclo, entre a Morte e a Vida Severina que continuam em nossos pés retirantes. “Mas, para que me conheçam// melhor Vossas Senhorias// e melhor possam seguir// a história de minha vida,// passo a ser o Severino// que em vossa presença emigra”.
Ficha Técnica
Elenco
Adilson Pimenta – Coveiro, Homem do Cemitério, Vizinho.
Alexandre Luz – Seu José Mestre Carpina, Homem do Cemitério.
Filipe Marques – Coveiro, Vizinho.
Keila Sodrach – Mulher da janela, Rezadeira,
Nilson Chucre – Irmão das Almas, Homem do Cemitério.
Ricardo Calderaro – Severino.
Rosilene Cordeiro – Cigana, Rezadeira, Vizinha.
Sergio Sales – Irmão das Almas, Homem do Cemitério, Vizinho.
Sol de Sousa – Cigana, Rezadeira, Vizinha.
Encenação e direção geral
Karine Jansen
Denis Bezerra
Figurino e Cenografia - Ézia Neves
Assistente de figurino - Cássia Farias
Costureira - Laura Cardoso
Objetos cenográficos – Leno do Miriti
Maquiagem: Cláudio Didimano
Iluminação: Sônia Lopes
Assistente de Iluminação: Jon Rente
Concepção audiovisual: Mateus Moura
Operação de som: Amanda Modesto
Arte: Cássio Tavernard