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Maria Sylvia Nunes – diretora teatral vanguardista

Atualizado: 15 de ago. de 2018



Maria Sylvia Nunes, jornal Correio do Povo/RS, em Porto Alegre, no IV Festival de Teatro do Estudante do Brasil, com a direção de Biedermann e os Incendários, de Max Frisch. Fonte: Acervo pessoal de Paraguassú Éleres.

Maria Sylvia Nunes atuou como diretora teatral no Norte Teatro Escola do Pará (NTEP) durante os seis anos de existência do grupo (1957-1962). Juntamente com seu esposo, Benedito Nunes, e sua irmã, Angelita Silva, coordenava as ações e produções desse importante grupo de teatro.

Na direção teatral, na época em que o teatro amador e de estudante agitavam a cena brasileira, Maria Sylvia Nunes teve um papel importantíssimo, de vanguarda, ao dirigir as primeiras encenações no Brasil de espetáculo como: Morte e Vida Severina (1958), Pic nic no front (1960), Biedermann e os Incendiários (1962), todos apresentados pelo NTEP nos festivais nacionais de teatro organizados por Paschoal Carlos Magno.

Em 1958, com o texto de João Cabral de Melo Neto, seu espetáculo foi o grande destaque do I Festival de Teatro de Estudante do Brasil (Recife/PE), ganhando prêmios de melhor ator (Carlos Miranda) e melhor espetáculo teatral (região Norte e Nordeste). Em 1959, em Santos, o grupo paraense destaca-se, novamente, entre os grupos amadores brasileiros, e repete a conquista, com melhor ator (Carlos Miranda), e Maria Sylvia Nunes ganha o de melhor direção teatral de todo o festival, que deu a ela a oportunidade de passar alguns meses na França, para estudar e assistir espetáculos, objetivo do prêmio. Luzia Barreto, em seu livro A Mulher no Teatro Brasileiro (1965), escreve sobre Maria Sylvia Nunes, e dar destaque ao festival de Recife (1958), e a coloca como uma das grandes representantes no campo da direção teatral.

Por essa importância histórica e pelos seus significados, a pesquisadora Iracy Vaz irá participará de uma das mesas do I Seminário de Memórias Cênicas na Amazônia, com a fala O protagonismo da encenação: Maria Sylvia Nunes e a primeira montagem de Morte e Vida Severina. O que faz a primeira montagem de Morte e Vida Severina, dirigida por Maria Sylvia Nunes, ser obliterada de alguns livros canônicos da História do Teatro? É hegemônico no teatro paraense ou subalterno na História do teatro brasileiro o nome dessa encenadora? Qual o protagonismo da montagem cênica de um poema em 1958? Esta comunicação discute a proposta de encenação e o pioneirismo de Maria Sylvia Nunes. E problematiza como a construção colonial e androcêntrica da História canônica do Teatro brasileiro obliterou o seu protagonismo”, relata a pesquisadora.

Essa reflexão parte, também, de sua pesquisa de doutoramento, Quem fala em nome do Teatro? Silenciamentos e obliterações na História hegemônica do Teatro brasileiro, a qual sob a luz dos Estudos Pós-coloniais, Descoloniais e Feministas, Iracy Vaz discute os motivos que levam a História hegemônica do Teatro Brasileiro obliterar a produção teatral da Amazônia, mais especificamente a produção teatral de mulheres. Abordando um “caso limite”, a ausência de referências dentro dessas narrativas sobre a primeira montagem do texto Morte e Vida Severina, dirigida por Maria Sylvia Nunes, no ano de 1958. Para tanto, a pesquisadora reflete sobre como a História canônica do Teatro Brasileiro está pautada em concepções coloniais, androcêntricas e racistas que consequentemente geram hierarquias e silenciamentos. Revelam-se então duas frentes necessárias: a desconstrução e a construção. A desconstrução de uma História hegemônica do Teatro, fazendo uma revisão crítica de argumentos que engendram hierarquias geográficas, étnicas, sociais, de gênero, sexualidade, entre outras. E a construção de uma nova História que não seja mais pautada na ideia de centros e periferias, mas que seja democrática, para que a pluralidade de vozes existentes no Teatro brasileiro possa de fato aparecer e ter representatividade.


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